2006/05/16

15.05.2006

Quem já ouviu blues, sente um desespero quente a ser vociferado por uma voz ou por um conjunto de dedos mais ou menos ágeis.

Numa noite fria de verão, num sítio quente cheio de fumo deparei-me com uma mulher que violentamente fazia rugir uma guitarra. Ela tinha uns longos cabelos pretos que lhe tapavam a cara, que se moviam ao sabor daqueles sons sibilantes. Os gritos eram selvagens, quase insuportáveis. Tinha uma pele de um tom pálido santificado. Por momentos senti-me petrificado com tanta beleza pura e ingénua.

Eu pensei, como é que era possível, alguém ter tanta inspiração, com sucessivos arrepios a percorrem todo o meu corpo!

Num ápice um folclore americano bateu-me…será que ela vendeu a sua alma ao diabo? Será que ela tinha percorrido a encruzilhada?

Quando o rugido parou, com uma sala repleta, um silêncio perturbador instaurou-se. Ela afastou os cabelos da cara, e deparei-me com uns olhos lindos, verdes, tão molhados como grãos de areia junto ao mar.

O meu cérebro pensou, onde é que ela ia arranjar tanto sentimento! Mas por momentos olhei para o braço da guitarra, lindo, feito de ébano, mas completamente ensanguentado! As cordas tinham rasgado o elo mediador entre o espírito e o cérebro. Mas no entanto ela sorriu.

2006/05/15

NADA FOI DITO

O sol põe-se como se estivesse a fumar de forma relaxada e pura. Uma espécie de diamante raro num dia triste como a mágoa da noite. Um testamento flamejante.

Gostava de ser aquilo que fui, pensava eu!

Um milhão de grãos de areia escorre por entre os meus dedos em câmara lenta, triste e pesada. O eco da memória não se cala. Os cães ladram, enrouquecidos, como avisos constantes da fúria. O fumo das fábricas são emanados demasiado tempo, para as pessoas perceberem a essência daquilo que deveriam ter sido. Um coração de cor púrpura, divaga nas revoluções diárias do espírito.

Queria de lhes desejar as melhores das sortes!

Uma canção brilha no rádio, numa espécie de adeus. Deitado no chão de um quarto de hotel, com flash de luzes a destruírem o olhar, penso que viajei milhares de quilómetros de sinapses para chegar a determinadas conclusões sem sentido nenhum. Detesto café, mas gosto de cafeína.

2006/05/05

NATURALIDADE PINTADA

Chora mas não chores por ninguém! Não podes mentir…podes ter tropeçado, mas espero que não tombes, porque tudo aquilo que é importante mantém-se intacto.

Foi assim que um dia senti a partida da tristeza, da solidão, como um espelho mimético de alegria e felicidade, desfeito em mil estilhaços com arestas que criavam avenidas de fluxos na beleza da pele. Por isso afastei-me, pelos pensamentos e pelas mágoas inerentes a qualquer ser humano, como baforadas de fumo a pairar, à espera de uma oportunidade para desaparecer, na impermanência de ser.

De joelhos, imploro o que não quero por tudo aquilo que quero. O pensamento surge, mas será que devo continuar? Parece-me uma conjuntura vaga e fugaz, como palavras ditas mas nunca escritas. Como a cadência das estrelas sobre um mar calmo e espelhado, mas no entanto revolto na sua essência.

Sinceramente apenas estou à espera…o tédio, o cansaço, apoderam-se. Muitas das vezes olho e perco-me na inércia de estar parado… de uma resposta.

2006/05/04

Sofrimento

Nunca te esqueças que num sinal vermelho podes sempre cantar uma canção....sabes que podes olhar para o lado à procura do teu reflexo...mas nunca desistas da tua vida, pensa nas coisas que brilham, alimenta a tua alma, através do céu, da natureza...mas nunca desistas num sinal vermelho...se precisares de mentir, mente, mas nunca a ti própria. Acho que consigo ver a verdade, ela é extremamente directa, fácil de ser apreendida, tão óbvia, crua, maldosa, linda, pervertida mas ao mesmo tempo melancólica, fugaz e incompreendida. Mas diz-me se sabes, se compreendes....porque eu percebo, mas no entanto derivo.

O que é certo é que és uma mulher que sabe que sabe. Sabendo aquilo que não sabe. Automaticamente derivas para um pensamento estranho, confuso, caótico, mas no entanto profundo. Rasuras aquilo que queres porque sabes aquilo que não queres, mas é errado. Tens de te obrigar a saber olhar para o enquadramento e saber que as permutas deste são constantes. Não existem dois dias iguais. Alimenta-te... Porque a tendência daquilo que É, é para deixar de SER, e se calhar encontramos um inevitável.

Tens de te sentir viva, através da crueldade da vida, não deves de discutir contigo. Percebo que sintas estranha, mas tenta percorrer as entranhas e nunca vivas num sinal vermelho...

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