2006/05/16

15.05.2006

Quem já ouviu blues, sente um desespero quente a ser vociferado por uma voz ou por um conjunto de dedos mais ou menos ágeis.

Numa noite fria de verão, num sítio quente cheio de fumo deparei-me com uma mulher que violentamente fazia rugir uma guitarra. Ela tinha uns longos cabelos pretos que lhe tapavam a cara, que se moviam ao sabor daqueles sons sibilantes. Os gritos eram selvagens, quase insuportáveis. Tinha uma pele de um tom pálido santificado. Por momentos senti-me petrificado com tanta beleza pura e ingénua.

Eu pensei, como é que era possível, alguém ter tanta inspiração, com sucessivos arrepios a percorrem todo o meu corpo!

Num ápice um folclore americano bateu-me…será que ela vendeu a sua alma ao diabo? Será que ela tinha percorrido a encruzilhada?

Quando o rugido parou, com uma sala repleta, um silêncio perturbador instaurou-se. Ela afastou os cabelos da cara, e deparei-me com uns olhos lindos, verdes, tão molhados como grãos de areia junto ao mar.

O meu cérebro pensou, onde é que ela ia arranjar tanto sentimento! Mas por momentos olhei para o braço da guitarra, lindo, feito de ébano, mas completamente ensanguentado! As cordas tinham rasgado o elo mediador entre o espírito e o cérebro. Mas no entanto ela sorriu.

5 Comentários:

Blogger André Carita disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

25 de julho de 2006 às 00:02  
Blogger Sara disse...

Já tinha saudades de escrever aqui.
Aqui há uma porta de entrada para a liberdade de pensamentos, através da libertação da consciência (ou da inconsciência).

Acho curioso ver que já se passou um ano. Quando releio os comments que fiz aos teus posts antigos, não só se apodera de mim uma sensação estranha de saudade, como me apercebo que a minha caminhada já aumentou um bocadinho (coisa que, há um ano atrás, eu achava impossível de acontecer).
Saudades, perguntas porquê?
Porque já fiz uma certa caminhada (e fico contente por isso:), ganhei um certo conhecimento e creio que nada disto funciona sem ter saudades.
Tenho tido contacto com uma realidade muito diferente (acho que precisava dela para me libertar de uma outra, mais dura e mais consciente) mas sinto falta de um tempo em que pensava sobre o que pensar e tinha o cuidado de reflectir e recriar-me. Agora, vivo numa correria constante, num caos temível pela velocidade com que as coisas ocorrem, sem haver hipótese de 'repensar' as coisas, as pessoas, as acções.
Antes, dedicava-me (e tinha tempo para isso), exigia de mim raciocínios completos (ou complexos) sobre a mente, a alma, as atitudes e as pessoas. Agora, sinto-me vazia, sem espírito crítico, amorfanhada por uma realidade inerente a todos, pela qual o máximo que alguém se digna a fazer é torná-la mais imbecil e insignificante. Tenho saudades do tempo em que tinha tempo para pensar e desenvolver projectos na minha cabeça. Gosto de fazer o que faço (e gosto muito :) mas sinto, a cada dia que passa, que as pessoas só se esforçam por tornar o início mais fácil, e o fim mais rápido; perdem tempo na inutilidade e no que não vale a pena e, pior, sinto que faço o mesmo. Há uns tempos dizia que devíamos ir com a flow. Hoje, afirmo convictamente que devemos mudar a flow. Caio no erro de desejar a rapidez do fim, e o início do tempo em que, facilmente, dou azo à minha imaginação e trabalho para alterar mentalidades. Mas, para isso, ainda faltam três anos (espero :) e até lá tenho de conviver com muitas destas coisas inutéis e insignificantes. A verdade é que, com algumas delas, temos de nos conformar, mas há outras totalmente impossíveis de eliminar, pelo que temos de contorná-las. Mas custa :( e depois chega-se a um ponto em que simplesmente se desiste...é o mesmo que cortar a ligação com este mundo...
Quero caminhar muito mais, e para engrandecer ainda mais essa caminhada, é preciso enfrentar tudo que a nós se dirige. Mas, se antes dizia isto a plenos pulmões, agora faço-o com consciência.
Se antes me opunha a ti e tentava obrigar-te :) a pensar que tudo poderia ser 'perfeito' ou um paraíso, desde que nós o quiséssemos, hoje digo que não é bem assim.
A cada dia que passa, apercebo-me do que é preciso mudar e do grande esforço que é preciso fazer para sequer imaginar uma forma de alterar tudo isto...
Quero ter uma grande luta pela frente, mas sei que ter consciência dela não é suficiente, por isso, pergunto-me se serei capaz.
E tenho muitas, muitas saudades de um tempo em que olhava para a frente e dizia: "vou conseguir!"; admiro-me pelo espírito criativo que tinha dentro de mim e tenho pena por me ver, hoje, consciente... afinal ter consciência era como tu dizias...dói.


E agora um PS- digo-te isto porque sempre compreendeste muito bem a minha complicação. E, de uma forma mais profunda e rasurada, eras tu que a desvendavas e simplificavas...
Mesmo que não tenhas nada a dizer, ou que caias e falhes um degrau, serás sempre a minha grande esperança :)
Porque foste a primeira pessoa a descobrir em mim algo mais..
(se tenho esse "algo mais" não sei, mas tu descobriste qualquer coisa que eu desconhecia :)..
Por isso, uma vez que, suponho eu, já passaste por isto e, no entanto, conseguiste contornar esta incompreensão da realidade, vejo em ti algo a alcançar. Especialmente o facto de não teres ido com a flow e de conseguires manter um pensamento só teu, em plena consciência.
Pronto, agora posso suspirar porque disse tudo :)
bjoo*

16 de dezembro de 2006 às 23:09  
Blogger Sara disse...

esqueci-me de dizer :)
tenho saudades de um bom jazz, de um bom soul e de um bom carioca de limão no vila galé (isto porque não gosto de café ;) *

16 de dezembro de 2006 às 23:15  
Anonymous Anônimo disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

3 de fevereiro de 2007 às 21:35  
Anonymous Anônimo disse...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

6 de fevereiro de 2007 às 02:04  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial

Creative Commons License

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 3.0 License.